Idéias

Lâmpadas acessas que iluminam nossa escuridão mais secreta.
(Andrea Carolina)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Incompreensão

Minha visão te alcança. Eu te julgo. A pergunta é: algum dia essas duas situações estarão na mesma sintonia por tempo suficiente e necessário para me salvar de mim e te absolver?

Se isso não acontece eu crio um rótulo; defino, coloco limites em um ser humano que é imenso. Faço isso com terceiros, fazem isso comigo. Típico ciclo vicioso cujo resultado é previsível: nenhum aprendizado e todo distanciamento do mundo. A incompreensão é nosso exercício mais cotidiano, menos perceptível e nada proveitoso.

Obstáculos

Chocar nunca foi sua intenção, mas de repente notava que buscar a própria voz não era muito bem visto no coro social. O certo era ter sua ressonância harmonizada com tal coro.

Ela nunca acreditou na polaridade, o que se revelava no presente como sua maior fortuna e, também, seu infortúnio. Mais uma vez paradoxos - que se ficam muito tempo ausentes faz com que ela duvide de si mesma.
E como as pessoas geralmente lidam com paradoxos? Não, não se sentem à vontade, pois são incompreensíveis em um primeiro momento. No entanto, se despendes tua energia para melhor compreendê-los podes descobrir que carregam um universo repleto de infinita sabedoria. Evita a armadilha de pensar que ela é sábia, apenas entenda que ela não evita o que é incompreensível.
Por isso o coração é importante. Estar no paradoxo sem coração é muito cansativo, pois não ser compreendido é fato que não deve ser usado para praticar a incompreensão.

História 5

Ela percebeu que por alguns segundos não ouviu nenhuma palavra, apenas viu a si mesma enquanto ele falava. O músico sem som que fazia com que ela vibrasse. Rapidamente voltou sua atenção à conversa. Encarou o ocorrido como um mergulho rápido, um encontro sem corpos. Se aquele momento emitisse um som, seria vigoroso e provocativo. Algo vivo, que antecede um súbito despertar.

História 4

A cena foi repetida algumas vezes. Agora os olhos verdes fitavam o espelho do trailer, absortos na beleza que lhe foi conferida. Lembrou-se das capas de revista que estampou e das diferentes versões de sua trajetória. Em segundos – que renderiam uma cena extensa nas telas de cinema – se deu conta de que seus medos e dissabores não tinham espaço nessa trajetória. Era tão conhecida e imitada que quase acreditou na forma que assumiu aos olhos de terceiros. O drama do sucesso sem sentido percorria suas veias, revelando certo desconforto naquele cenário sem câmaras.

Metáforas

Alguém lembrou que o rio onde nos banhamos a primeira vez não será o mesmo na segunda visita. Ele corre; flui como a nossa vida deveria fazer. A história segue seu curso e ninguém volta para dizer aonde ela chega. E se acreditas que volta lembra-te: mesmo quando isso acontece não há compreensão total da informação, o que arrisca uma mudança de fluxo desnecessária. Você já pensou nisso: se uma gota do oceano viesse contar para a gota do rio como é a imensidão azul, ela poderia compreender tamanha vastidão sem ali estar?

Metáforas, metáforas! Nos levam a lugares sem nome, mas nos confortam. Somos energia concentrada buscando expansão? Se sim, pense: nada impede isso, a não ser nossa concentração naquilo que não tem valor.

Fluidez

Por que fluir é algo tão difícil? Observar os rios seguindo em direção ao mar não era prática comum naquele momento da história. Se fosse, adiantaria? A angústia denunciava que a água estagnou em algum ponto. Ah, se fosse apenas em um! E ela – com e maiúsculo – era a única que poderia compreender toda essa dinâmica sem se perder em si. Os caminhos para essa maioridade se revelavam, mas pediam uma força ainda desconhecida.
O ar funciona como os pensamentos; rápido, volátil, escorregadio. Dessa maneira se movimenta, colhendo dados que impulsionam até que vira vento e modifica ambientes. Naquele momento o ar não percorria seu trajeto para a modificação, acusando o não direcionamento dos aprendizados que estavam no coração. Ela esperava a certeza para avançar, o que se mostrou maneira florida de esconder o medo. Você tem certeza de alguma coisa? Imaginei.
Os labirintos são assim mesmo. O avanço pode ser em direção a uma parede, que cumpre a função de redirecionar os passos.

Quem é ela?

Ela são várias, por isso não tem nome. Ela guarda segredos que desconhece. Ela me dá uma terrível dor de cabeça, causada por diversas impressões que precisam ser redigidas e organizadas. Ela me faz rir, e agradeço aos pólos por isso. Do emaranhado constante de seus pensamentos algo surgia, e talvez o motivo seja a vontade genuína que ela sentia de alinhar o que deveria ser alinhado.

Uma das inúmeras coisas que precisava fazer era escrever roteiros, e não fazia idéia das etapas necessárias para isso. Gostava de ver filmes porque as falas são sempre retas; certeiras. Cumprem seu papel na medida, conduzindo a história. Será que poderia fazer de sua própria vida um roteiro? Alguém já alertou que o cenário de nossa existência não permite ensaios. Isso sentia na pele, pois suas contradições eram inúmeras.
Essa divisão constante a qual era submetida por todos os seus personagens nunca foi confortável. Será que para se sentir bem no próprio corpo é preciso tanta perfeição e alinhamento. Intimamente nutria a esperança de que isso não fosse necessário, pois ali – naquele momento – essa possibilidade parecia distante. Como todos os seus sonhos.
E o que são os sonhos, afinal? Sem a resposta, sentiu a ilusão que permeava seus dias. Todas aquelas crenças, rótulos e máscaras faziam um convite à reflexão. Mas, o que é a reflexão sem a ação? A vida estava rindo, com olhar irônico e inocente. Desaprender para aprender. O tempo todo. Isso é movimento.

Rever

No frio, as coisas congelam. Era esse tipo de solidez que ela sempre temeu, e sem notar se entregou às mentiras de suas emoções e resolveu se dissolver. De maneir
a bem estranha, seguiu em direção contrária à integração que tanto almejava.

Interessante notar que depois da dissolução total, os fragmentos que tanto incomodavam já não existiam. Pelo menos não de maneira cristalizada, o que alimentou a falsa sensação de ser divertido estar dissolvida. Ela nunca se sentiu tão grata ao movimento cíclico do mundo natural. O frio que a dor da dissolução traz permite nova agitação para aproximar o que está disperso e alcançar novamente o estado sólido. Ela compreendeu que embora fosse novamente congelar, agora o arranjo das partes poderia ser diferente.
Entre todas as possibilidades da palavra coração, ela vislumbrou algo. Ele tece as relações, tece o contato com o outro. Se isso não acontece, o sentido deixa de acompanhar as ações. Isso explicaria as atitudes sem sentido que ela vinha tomando. As explicações seriam necessárias? Talvez não a explicação em si, mas a interpretação dos fatos. Interpretar o que já foi permite o retorno de sentido para o que estava disperso. Seria então um retorno ao coração?

O papel da dor

Estava dissolvida. A única maneira de fazer valer a pena cada tropeço seria compartilhar seu presente momento. Estava em carne viva, pois o que sentia já havia ultrapassado a dor de uma ferida. Entendeu que a dor e o riso caminham juntos. Rir era a única maneira de continuar, mas não queria o riso sem motivo. Queria rir de si mesma, como espectadora de um enredo confuso que não tinha como promessa revelar seus mistérios.
O olhar que a acompanhava poderia ser o seu ou não. Ela jamais saberia. A visão poderia ser clara ou apenas mais uma tentativa frustrada de justificar as próprias falhas. Fazia isso com constância – justificava cada passo, como se isso pudesse defendê-la de si mesma. Não agüentava mais confrontar o auto-engano depois de retirar o cobertor que o escondia. Precisava de substância, sem nem sequer ter idéia do que isso significasse.
Sentia desdém pelo sólido? E não seria o sólido uma mera ilusão, que insiste em fazê-la acreditar que tudo está separado? De repente, percebeu que integrar o que estava dissolvido nada mais é que o retorno ao estado sólido. Assim, a palavra ganhou movimento, o que deu novo sentido à situação.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Movimento

A vida é assim. Para que falas e diálogos se a história acontece dentro de nós? Personagens externos se fundem aos diversos personagens que carregamos, roubando a clareza daquilo que realmente vale à pena.

E que tipo de blog é este, sem definição ou direção clara? História interna, sem pretensão de adquirir forma e munida da simples necessidade de manifestar algo sem nome. Os rótulos limitam e ficar imóvel me cansa.

Somos seres humanos. Isso nos aproxima e nos afasta. Temos potencial para transformar paredes, mas insistimos em acreditar que vislumbrá-las é atitude estável. A estabilidade que procuramos sufoca o avanço. Somos bombardeados por fórmulas para “ser magros”, “ser feliz”, “ser equilibrados” ou “ser alguém igual a outro desprovido de fórmulas”. Mas saiba: este coração que busca algo sem nome não tem fórmulas ou soluções, apenas perguntas. E precisa compartilhar isso. Deixar claro a imensidão daquilo que cada um carrega, mostrando sombras de maneira natural, é um tipo de movimento em direção àquilo que nos aproxima. Este coração está farto de tudo o que nos afasta.
Se ainda está lendo acredite: o seu coração sabe sobre o que o meu fala. Não tenho claro os motivos da nossa jornada diária que é existir, não sei de onde vim nem para onde vou; não carrego certezas e por isso mesmo não tenho respostas. Isso poderia me afastar de você. Mas, nunca precisei tanto me sentir conectada aos meus semelhantes para aceitar essa minha humanidade. Talvez fluir se torne algo natural se a correnteza me acompanhar. Quem sabe do mar que nos espera?

Historia 3

A senhora no ponto de ônibus assustou-se com o som do escapamento. Observou o velho carro passando e estranhamente se enxergou. Tantos anos direcionando vidas alheias que com o passar do tempo encontraram veículos novos e diferentes. Por que envelhecemos? O médico esteve com ela alguns minutos, que foram encerrados com uma receita para aliviar suas dores. Isso era possível, mesmo notando em seu íntimo que o olhar daquele jovem não alcançava sequer o pouco que conhecia de si mesma?

História 2

Ele observou a paciente deixando a sala. Duas da manhã e mais uma prescrição feita. As mãos coçaram os olhos na tentativa de despertar. Não havia sentido algum naquele período vivenciado. Após tantos anos na faculdade, estudando as mais diversas patologias, ele nem sequer poderia saber se aquela pessoa que acabara de sair iria encontrar real alívio. Não tinha religião e achava a palavra sinônimo de qualquer coisa pejorativa. Mesmo assim, colocou sua atenção na violeta em cima da mesa. Estaríamos tão distantes dessa força que gera algo tão perfeito, belo e simétrico como aquela flor? O que impede a presença dessa força nas pessoas doentes? Ao divagar por esses pensamentos sentiu-se fora de órbita, sensação incômoda que foi sanada assim que ligou a TV.